Tomás era um homem que vivia sozinho na sua humilde casa de campo em Castro Marim, era salineiro de profissão, trabalhava todos os dias para esquecer o que a vida lhe tinha reservado. A sua mulher morrera há vinte anos no dia 24 de Dezembro, vítima da doença da moda, nunca tivera filhos para compartilhar as suas histórias, experiências e viver a época natalícia de uma forma mágica.
Quando chegava o dia 24 de Dezembro todos os anos, Tomás chegava de um dia cansativo nas salinas, entrava e fechava todas as janelas e as portas como se ele nunca tivesse existido. Sentava-se à mesa com a fotografia da sua mulher e chorava desconsoladamente. Nunca tivera amigos para partilhar as suas dores, fora sempre um homem só e carrancudo que odiava o mundo e as pessoas que se aproximavam dele.
Quando passava na rua era olhado de lado pelo seu mau feitio e pela sua desagradável forma de falar com quem se cruzasse no seu caminho. Recordo-me de assistir uma vez a uma cena fora do comum com ele. As crianças brincavam às escondidas correndo para os seus esconderijos nos cantos da rua e Tomás cruzava a rua de cabisbaixo com aquela cara habitual, uma das crianças corria desalmadamente rua fora sem olhar para qualquer lado e acabou por chocar na barriga gigante de Tomás. Tomás ficou tão zangado que esbofeteou a criança e a deixou no chão a chorar desconsoladamente. A partir desse dia nunca mais ninguém falou com ele.
Chegado o dia 25 de Dezembro Tomás decidira que naquele dia iria trabalhar duro e mais sozinho do que nunca para que o dia passa-se o mais rápido possível. Estava um frio de cortar à faca e a neblina intensificara-se, não se via um palmo de chão. Pegou nas suas ferramentas e começou a trabalhar até que escorregou e caiu nas águas de uma salina que estavam gélidas e começou a afundar-se cada vez mais. Ninguém para o socorrer e ele morreria ali sem ninguém, o frio comia-lhe o corpo, mas ele não lutava para viver, deixou-se ficar sobre a água até que a luz se apagasse. Foi então que ouviu uma vozinha chamar pelo seu nome, mas não acreditou que houvesse alguém ali para ele.
Uma mão pequenina estendia-se sobre o seu corpo frio até à superfície e quando Tomás abriu os olhos, viu aquele menino que ele próprio deixara a chorar na rua, ele salvara-lhe a vida. Foi então que Tomás começou a viver a vida de maneira diferente. Decidiu agradecer ao menino por tudo o que tinha feito por ele e então decidiu que todos os anos pelo Natal iria dar-lhe a flor mais bonita que alguma vez vira na salina, a flor de sal. O menino ficou tão comovido pelo gesto que o convidou a passar os próximos dias de Natal com ele e com a sua família. Tomás nunca mais ficou sozinho e viveu o resto da sua vida feliz.
Cláudia Lopes
in I Volume da Colectânea de Contos de Natal, intitulado “Natal em Palavras”, Chiado Editora
Foto retirada da Internet:
http://m.ipernity.com/#/doc/xata/45229018Foto retirada da Internet:
Sem comentários:
Enviar um comentário