É insano o que sentimos todos os dias por nós mesmos, cruel é olhar-nos ao espelho e tocar-mo-nos da cabeça aos pés como se fossemos um bicho raro, um desconhecido que não pertence ao corpo que toca, que sente esta pele como não sendo a sua, e dizer de nós para connosco o quanto gostávamos de algo diferente, mais perfeito. Sentimo-nos insatisfeitos com o que somos, mudamos os lábios, o formato do rosto, pintamos uma máscara que não nos pertence para nos sentirmos melhor, tentamos corrigir os erros de uma imagem semelhante ao que queremos ser. Tudo menos o que somos.
Pertencemos a uma sociedade doente pela perfeição de um corpo, de uma imagem, de uma personagem alegórica talvez, e alinhavamos ao longo o tempo um corpo que é o nosso, delineamos-lhe uma cintura mais fina, cosemos centímetro a centímetro com retalhos de outros corpos semelhantes à ideia da nossa perfeiçao. Somos dementes, apologistas da perfeição divina. Tratar-nos como uma experiência de laboratório indeciso entre a ficção e a realidade, somos presos constantes das nossas mentes doentes num mundo imperfeito com imperfeições simétricas a um estilo de vida tactilmente correto aceitando-nos tal como somos.
Lamentável é quando já nada podes fazer para voltar atrás num erro de estética que te domina a mente como uma peste que se propaga tão rapidamente que por vezes nem dás por ela, e quando dás por ti, encontras-te numa sociedade em loucura profunda pela correção automatizada de erros indecifráveis.
Sanos são os que se aceitam com todas as imperfeições do seu corpo. Sanos somos quando encontramos alguém que nos aceita todas as imperfeições, mesmo sendo nós por vezes a criticarmos tudo o que nos corre mal à primeira ou mesmo quando os fracassos da vida nos derrota em meros instantes. Somos felizes quando nos amamos e aprendemos a amar o próximo de uma maneira extravagante, quando alinhamos voluntariamente dois corpos imperfeitos que se completam como duas metades meias distorcidas e irregulares. Completam-se por fim quando encontramos a nossa outra metade nas imperfeições que nos cativam, que nos enlouquecem num minuto e delineamos com as pontas dos dedos as curvas retorcidas, avultadas, avantajadas e por vezes instáveis, mas amamos tal como são. A felicidade encontra-se nas pequenas imperfeições mais visíveis do nosso ser, somos imperfeitos com qualidades que só o amor verdadeiro consegue encontrar, a isso chamo-lhe: Amor Próprio!
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