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Quando Partiste (Prosa)


As mãos, estranhamente, tremiam ao pegar no telefone para lhe ligar. O papel e a caneta há muito que estavam em escassez e a tinta terminara por secar. Mandara-lhe cartas consecutivamente no espaço de três meses todos os dias. Esperava sentada à porta de casa, semanas depois a ver o carteiro partir da minha caixa de correio. Levantava-me e era uma correria tremenda até lá. Vasculhava todas as cartas à procura de resposta, mas em vão. Era sempre assim.
Partira há questão de um ano sem despedida. Fora de uma forma tão forçada. As discussões já se alastravam há demasiado tempo entre nós os dois. Eram pedidos de desculpa a toda a hora, mas voltava sempre a suceder. Era horrível viver assim!
Saiu naquele dia pela porta da frente. Chovia a cântaros. A chuva teimava em cair tão constantemente fazendo pequenas moças no telhado, que vertia água num tom suplicante pelos canais. Disse que seria melhor para nós dois nos afastarmos por uns tempos e quando tudo tivesse calmo daria notícias.
Talvez as minhas cartas nem tenham chegado! Não me recordo, se daquela pressa toda com que saiu anotei bem a direcção… Talvez me tenha enganado ou simplesmente não quer responder.
Juro que tentei por tudo marcar o seu número para resolver o sucedido, mas as mãos tremiam tanto! Mesmo depois de marcar consecutivamente o mesmo quatro vezes, saltava-me sempre a caixa de correio do outro lado da linha.
Seria a partir daquele dia em que guardaria dentro de mim todos os sonhos do nosso mundo, que, agora só me pertenciam a mim. As lembranças do tempo a dois seriam só recordações. Quem sabe se um dia o mundo não nos prega uma partida, e voltaremos a ser nós os dois para sempre. Até lá o futuro, pertence-me!

Cláudia Lopes

Imagem retirada da Internet:
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