Inconsciente (Prosa)

Encontra-me para além de mim. Sei que serias capaz de me dizer em todas as tuas palavras esmorecidas e tentadas que devaneias na beira da minha cama o que sou para ti. 

O livro que me lês, confesso que não faz o meu tipo, mas a tua voz... a voz que divagas e que se prende a meio nos lábios é como mel que escorre lentamente para dentro de mim. Eu ouço-te. Espero que no dia em que acordar estejas aqui de livro em punho perdido no meio das palavras meio sonâmbulo e que percebas que regressei para ouvir na primeira fila, e mais de perto as tuas histórias. Já tentei acordar tantas vezes para te abraçar... mas os braços param a meio caminho dos teus, e o som das máquinas somente em bip... bip... bip... Ouço-te quando entras em pés de lã pelo quarto e fechas a porta. Gostava que soubesses que ainda vivo por ti. Que ainda o meu coração funciona em bip para ouvir-te ler, para não perder as notas da tua voz. Isso torna-me um pouco mais desperta sabes? Valoro a tua insistência em todos os dias de acreditares que as tuas leituras e os teus desabafos me iram acordar. Anseio pelo dia de abrir os olhos e ver-te como se depois de o tempo parar por uns "instantes", encontrar-te o mesmo. Quem sabe um dia ver-te-ei quando acordar com uma ruga a crescer-te na face mas a minha vontade é imensa. Amar-te mesmo na inconsciência me torna mais consciente em que um dia irei voltar a ver-te. Por agora as portas abrem-se e fecham e as borboletas perdem-se na bruma, a escuridão vacila-me o sentido e os ouvidos perdem-se num zumbido de um biiiip e o mundo se fecha numa luz ao fundo do corredor. Semicerro os olhos pelo encadeamento e uma mão estende-se à minha frente. Espero por aqui para te abraçar um dia.

Cláudia Lopes

Fotografia retirada da Internet :
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