Correndo contra o Tempo (Prosa)

A boca secava-me formando-me um nó na garganta e o ar falhava. A multidão de amigos e desconhecidos olhavam para mim com um misto de ansiedade no olhar. As mãos tremiam-me, o estômago contorcia-se num aperto enorme como se fosse espancado compulsivamente. Sentia que ficaria aqui sobre olhares desfeitos se não entrasses de imediato pela passadeira até mim. Mais um minuto e começaria a comer-me por dentro!

O teu atraso a mais já me causava depressão. O tempo parecia correr mais depressa do que julgava.

Entraste apressadamente de braço dado com o teu pai. O vestido tonificava-te a silhueta e o nervosismo acentuava-se na tua passada lenta.

Os olhares invejavam o nosso momento e as más-línguas cochichavam todos os pormenores.

As tuas mãos tocaram por fim as minhas e depois desse momento os olhos cegaram-me por completo num sono profundo.

Voltei a ver-te no meu quarto, na minha cama, abraçados numa alegria que sufocava o momento. De olhos fixos em ti a visão turvava novamente e de repente os ouvidos latejam de dor enquanto um zumbido ensurdecedor surgia no momento exacto que te segurava a mão mais uma vez. A tua pele estava diferente. A aliança já não se ajustava como antes. Eu sentia. Sentia que o tempo passara num só segundo. Estava a esgotar-se e os olhos enchiam-se de lágrimas pela primeira vez. Toquei a minha pele enrugada pelos anos que desfaziam a minha alma e chorei num soluço mudo.

Os olhos entreabriram-se e a visão por fim focou no meu último momento. O despertador dançava na mesa de cabeceira e a cama estava vazia. O teu perfume há muito que não enchia o quarto e a tua ausência acentuara nos últimos segundos que me envolveram. Voltei a fechar os olhos e o corpo sucumbiu, por fim partia.

Cláudia Lopes

Imagem retirada da Internet:
https://petapixel.com/2012/07/07/professional-photogs-find-a-new-niche-as-vacation-photographers/