Biografia

Biografia

Livro

Livro

Sofrimento (Prosa)


Entrou em casa e quando se colocou diante do espelho. Observou-se incrédula e falou com a desconhecida.
— Não posso ser eu! — disse de si para consigo e levou as mãos ao rosto.
As suas olheiras afundavam-lhe os olhos e as suas rugas curvavam-se ao longo dos seus lábios.
O tempo passara a correr e a angústia apressar-lhe os anos numa velocidade alucinante.
Passara anos a chorar pelo desgosto. O filho morrera naquele trágico acidente junto ao nó da autoestrada. Tinha sido tudo culpa do outro condutor que não respeitara a cedência de passagem.
Maria chorava e soluçava sentido-se como se tivesse sido há horas atrás que soubera que o seu único filho partira. O seu coração desintegrava-se a cada dia que passava. A recordação penetrava-lhe a alma. Tinham sido anos de dor agoniante.
Hoje era mais um dia em que a mente pregava-lhe partidas. Saíra sedo para começar o novo trabalho e ao chegar ao autocarro abandonou o local e dirigiu-se de novo para casa. Tudo à sua volta, todos os carros que passavam e buzinavam faziam-lhe lembrar a tragédia que sofrera. Tinha pensado mudar a sua vida e a escuridão voltava a consumi-la por dentro. Já não tinha forças. Deixara a sua vida passar no luto e agora as rugas enchiam-lhe a cara.
O preto estendia-se pelo seu corpo e aquela imagem reflectida no espelho era agora uma desconhecida. Percebera tarde de mais.
— Seria hora de partir — pensou para com os seus botões. Bebeu os comprimidos que estavam sobre a mesa.
O sono depressa se apoderou dela. A imagem do seu adorado filho questionava-a sentada sobre os pés da cama.
— Mãe, porque decides partir para junto de mim?
Maria adormecera por fim com as lágrimas embriagadas. Suspirou profundamente uma última vez e partiu.

Cláudia Lopes

Imagem retirada da Internet:
https://www.freshmorningquotes.com/wp-content/uploads/2016/01/happy-teddy-day-2016-wallpoaper.jpg


Sem comentários:

Enviar um comentário