Sentes-te em baixo hoje, não é verdade? Sem vontade de seguir em frente, levantas-te da cama sem motivação para saíres pela porta e conheceres o mundo? O mundo de quem tens pavor de enfrentar e de que te escondeste tanto todo este tempo, fingindo não seres tu mesma, vivendo a vida da tua cara-metade.
Pegas no telemóvel assim que te levantas todos os dias, mas continua em branco, como se a noite não o tivesse embalado num sono profundo, para um amanhecer diferente.
Sentes a falta dele, não é verdade? Eu sei que sim. Sentes porque já não sabes viver sozinha e o teu mundo avançou sobre o tempo, e tu não deste conta como os momentos das tuas amigas e amigos passavam diante dos teus olhos cegos. O mundo avançou e tu perdeste-te no tempo do teu pequeno mundo.
Eu já passei por isso, confesso, e é a dor mais agoniante que alguma vez poderás sentir. É como se te desintegrassem membro a membro do teu próprio corpo, e o dissolvessem numa reação química entre o que o cérebro quer e o que o coração sente.
Choras até ao limite da tua dor como se fosse o único que te restasse dele. Falta-te o chão quando esbarras por completo na realidade.
As palavras esmorecem-te nos lábios quando entras no café da esquina para dizer “Bom dia”, beber o primeiro café da manhã até se torna uma tortura. Puxas de uma cadeira e sentas-te na mesa do canto como habitualmente fazes, mas hoje sentes-te sozinha numa mesa tão grande só para uma chávena café meio cheia tal como tu. Parece um pesadelo, eu sei melhor do que ninguém como isso te afeta, passares na rua onde ainda há dias passas-te de mão dada e feliz. As lágrimas enchem-te os olhos de momentos que o tempo levou para longe, e que a saudade que tens desaba-te sobre os ombros nus todos os dias, com pensamentos que vagueiam pela tua mente.
Sei decor cada momento que passei perdida nas sombras do tempo — a mente não apaga, infelizmente — parecia nunca ter fim, mas sabes, ele nunca ligou de volta, nunca recebi uma mensagem a pedir “desculpa”, ou, mesmo uma visita para podermos falar sobre nós. Vivi (anos) perdida sem rumo, mas agradeci-lhe por não o ter feito, porque aprendi que a vida tem mais cor assim.
Cláudia Lopes
Imagem retirada da Internet: https://favim.com/image/1848028/
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